Orgulho e Preconceito e Zumbis

Em 1981, David Byrne, o cara do talking heads, se juntou ao Brian Eno, conceituado músico e produtor, pioneiro no uso de colagens feitas com fitas magnéticas na música pop, e fizeram um album histórico e que antecipou toda a colagem em que se transformou a musica pop que foi feita nas décadas posteriores. Byrne e Eno, antes da era digital, recortaram a mão, com tesoura e durex, pedaços de fitas magneticas gravadas com vozes folcloricas de várias partes do mundo, discursos de politicos, sermões evangélicos, pastores praticando exorcismo e usaram estes trechos como vocal sobre bases rítmicas que eles criaram a posteriori. Assim, a voz de uma cantora folclorica tradicional do oriente medio se transformou em outra coisa quando foi acrescida de uma base funk old school pelos dois compositores. Com este disco, eles fizeram um mashup (uma mescla musical de duas ou mais musicas) e criaram uma outra musica. Na década seguinte, e com o surgimento dos samplers digitais, mais da metade da musica pop usou recursos e ideias feitas por esta dupla.
Mas carái, pq eu to falando deste disco numa resenha de filme de zumbi com jane austen? Hmmm, já deu pra entender né? Este filme também é um mashup. Aliás este filme é baseado em um livro mashup que mistura o livro Orgulho e Preconceito da Jane Austen com a mitologia dos filmes de zumbi.
Olha, vou te falar uma coisa pra vcs, nao sei sobre o livro, não sei o tanto que ele fere os cânones da literatura universal austiniana, mas o filme é bem legal. Mesmo pq, o sagrado na arte foi escurraçado e ficou lá pelos anos do início do século XX, logo depois que o Duchamp e sua Mona Lisa com bigodinho e cavanhaque fuderam com tudo, no bom sentido.
Mashup bom nao é misturar agua e óleo e ver os dois juntos, mas separados. Mashup bom é pegar ovo-agua e óleo e emulsificar e fazer virar maionese. Este filme é um bom mashup. É legal pq tem a historia da Austen, o orgulho e o preconceito e aquela discussão de quem é quem na sociedade inglesa e quem fez fofoca de quem pra impedir que alguem case com outro alguém, e também tem ataques de zumbis. Óbvio que tudo devidamente explicado no prologo de pq da invasao zumbi e tals. É mashup pq as irmãs letradas e bordadeiras do original, neste universo paralelo austen-romero, são agora prendadas em artes marciais, manejos de armas e decapitações de mortos vivos com espadas. É assim que, neste universo, é avaliado se uma moça é prendada or not. 
É um filme legal, mas é preciso que vc, espectador, também se dispa de seu orgulho de conhecer e só ler a Austen no original e não tenha preconceito de ver no que deu esta mistura inusitada, mas que nao ficou indigesta. Afinal, achar que o mundo é um arco-iris e, ao mesmo tempo, rir da ministra reducionista que disse que menino usa azul e menina usa rosa é fácil. Quero ver levar este conceito de mescla, mistura de zilhões de cores para outros lugares do conhecimento como, por exemplo, num filme que mistura orgulho, preconceito e zumbis. Topas?

Ah, sim. Se vc quiser ouvir uma palhinha do disco que falei no começo da resenha, vai aqui o link https://www.youtube.com/watch?v=k-HDlKhoiZY
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