A História de JJJ e da Dona Claudia do 22

Hoje minha história começa como uma estória, John John era um gato preto e branco de rua com os pelos despenteados que cagava na nossa garagem. Dona Claudia ficava possessa e pegava uma vassoura com a doce ilusão de sair correndo atrás daquela peste marginal de bueiros.
Com o tempo, virou Janjão, o desgraçado cagador de garagens. Janjão também dormia no tapete da porta de casa e engruvinhava tudo ele para o ótio de Dona Claudia.
Depois de algum tempo Janjão sumiu, nunca mais vimos, nem no meio da turma do manda chuva que mora num terreno baldio virando a esquina. Não sabemos se ele foi preso pela polícia, se ele foi morto pela ditadura, por algum desafeto, por disputa por ponto de tráfico de drogas. Se ele se mudou pra Bahia, talvez volte qualquer dia. Nunca mais vimos.
Mas, assim como nas melhores histórias da Disney, como o rei leão, Janjão deixou um herdeiro igualzinho a ele. John John Junior, Janjão Jr ou, atualmente JJJ. E não é que o desgraçado júnior, para desespero da dona Claudia, também passa pela grade e vem dormir no tapete dela? Pelo menos ele nao faz cocô na garagem.
Outro dia, estávamos dormindo e lá pelas duas da manhã escutamos um barulho de alguém dando partida num carro. Eu acordei e vi que dona Claudia estava levantando para ver o que era. Eu disse, Não precisa se preocupar pq nao é o barulho do Átila, o uno. Dona Claudia disse ah tá, deu uma rodada sobre si mesmo, e voltou a dormir.
No outro dia, ela me confessou que estava levantando, não para ver o barulho do carro, mas que ia descer sorrateiramente e abrir a porta da sala e dizer, ARRRRRÁ pra pegar JJJ dormindo em seu tapete. E eu frustei o plano dela. Nós rimos muito.
Agora, JJJ passa o dia deitado na árvore em frente de casa. As noites dorme no tapete. Neste dias de frio, surpreendi dona Claudia fechando as janelas da área comum de fora do apartamento. Ela me disse que era para JJJ não passar muito frio. Outro dia, deixou um pedaço de queijo parmesao na árvore pra ele. Nicolau já levou linguiça. Falamos oi para ele lá na árvore todo dia.
Resumindo, temos um gato selvagem de estimação. Um gato que vive na rua, que trepa em árvores e em gatas, que não está sujeito aos nossos caprichos humanos. Sem hierarquia. Num veganismo estado islâmico radical de não sujeitar outro ser de outra raça ao humanocentrismo filogenético. Um gato vivendo uma vida de gato, gateando junto com humanos vivendo vidas de humanos, humaneando. Um gato não castrado que escolheu a gente como família. Ele na dele e nós na nossa, com possibilidades de vários encontros e desencontros no decorrer do período. Cada um vivendo a sua vida e, na medida do possível, livres. If you love somebody set them free. Free, free. Set them free.

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