Chulé+bala chita+desodorante de pinho 30062017

Hoje fui fazer o meu exame médico para mostrar que estou apto para voltar para as férias escolares. Resolvi ir de uber, depois ficar dando um rolê pelo centro, coisa que já disse para vocês que adoro fazer. E adoro saber que eu posso fazer de novo, adoro tanto que vocês nem podem imaginar o tanto que eu adoro tanto deambular por lá.
Quando meu uber chegou, dou de cara com a naomi campbell quarentona do cerrado na direção. Negra, bonitona, cabelo com franja e liso até quase na cintura, óculos de sol jaqueline onassis, pulseiras de ouro e anéis e colares mil adornando o ser. Fomos conversando sobre buracos, única variável possível de assunto do manjado será que vai chover. Naomi liga o som, começa um sertanejão universitário típico, com aquele acordeão típico e eu a perdõo por este deslize. Mais do que isso, eu começo a gostar da música e de sertanejo universitário no modo eterno enquanto dura do vinicius. Chego ao meu destino, Desço do carro, falo tiau pra Naô e automaticamente volto a desgostar de sertanejo universitário.
Entreguei os papéis no local de fazer exames médicos de trabalho e fui preencher aquele formulário com perguntas que vc tem que preencher quando é admitido, readmitido, demitido, periodicamente inspecionado e tals. Prancheta, formulário e caneta e lá fui eu sentar numa cadeira da sala de espera. Logo depois de mim veio um mocinho que não respeitou a regra básica de destribuição espacial de pessoas que não se conhecem num ambiente comum. Ou seja, sentou ao meu lado, não pulou uma cadeira. Não que tivesse uma cadeira para ele pular, mas na fileira de trás tinha. Ele tinha cheiro de desodorante de ômi, aqueles de pinho, talvez pq ele fosse ômi. Mas acho que ele tinha tomado banho de perfume pq o cheiro tava muito alto. Fiquei lá de boa mas, se tivesse um controle remoto para desodorantes na vizinhança, teria abaixado quatro risquinhos pelo menos no volume do cheiro.
A moça me chama para pesar e medir e perguntar umas coisas. Faço esta parte e ela me manda para outra sala de espera. Passa um tempinho e vem o cheirosão e senta ao meu lado, agora já somos amigos. Mas aquele cheiro de pinho macho começa a me dar dor de cabeça. Passa mais um tempo e me chamam de novo e me mandam para outra sala, que é para eu aguardar que o médico vai me chamar.
Ao entrar na sala de espera meio cheia de gente, tenho um impacto olfativo estilo nouvelle cousine catalã, bate uma lufada de cheiro de chulé com bala chita. Experiência pior que essa só entrando numa cabine lotada no meio da noite num trem de Bruxellas para Paris junto com a Maria José Neves em 1989.
Sinto saudades do moço do pinho, mas nem deu tempo pq la veio ele e sentou ao meu lado de novo. Pinho+chulé+bala chita, Quem disse que nao poderia piorar?
Começo a pensar que pinho tá me crushando. Mas eu pensar isso nao significa nada pq meu coração pode ser novo e saudável mas continua cheio de sujeiras e maldades.
O médico me chama, falo tiau pro pinho. Eita médico simpático, conversamos muito, no final ele até conhecia uma moça que tem uma filha que tem aula comigo na escola que eu estava fazendo o exame para voltar ao trabalho.
Ainda saio de lá e passo na escola para deixar o papel do exame. Depois, subo a pé até a nove, combinei de encontrar com a Claudia para comermos alguma coisa na Familiare. Chego antes, entro e fico esperando por ela em uma mesa.
Na mesa mais ou menos ao lado tem um grupo de médicas, senhoras, digo senhoras mas devem ter a mesma idade que eu. Tem uma que fala mais alto, tem uma dicção boa, parece oradora, então a voz dela se sobressai dentro de toda a panificadora. tento não prestar atenção no que ela fala mas a voz me hipnotiza sobre todo o murmurinho do local. E olha que eu não estou tão perto assim delas. Fico sabendo que ela nunca conseguiu aprender estatística, nem na graduação e nem na residência e nem na pós. Tem um sobrinho dela que teve várias dificuldades mas agora aos 29 consegui ser alguém que a gente não percebe que não é alguém. Sei também que ela vai fazer aniversário e da velha turma de medicina que ainda está em ribeirao ela vai convidar a ginecologista da claudia e uma outra amiga minha. Preciso sair dali urgente, meu cérebro começa a ser tomado por só escutar aquela voz. Vou para outro lugar esperar a claudia, quero ter os meus pensamentos de volta, nem que sejam sobre o chulé-chita-pinho-desodorante. Nem se comparam com aqueles sobre estatística, mestrado e mercado de trabalho das ladies da mesa, mas pelo menos são meus.
A Claudia chega e vamos sentar. Os filhos foram ao cinema com a prima. A vida é férias, a vida é ir e vir, é volta. É lembrar das sextas perdidas no tempo em que iamos lá com minha mãe. É ir lá mesmo assim e (quase) nem lembrar disso pq a vida continua. E como continua, custe o que custar.

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