Coitado dinóis!


Voltei hoje a levar filhos na escola, apesar disso, voltei ontem para a reunião pedagógica. No meio do caminho, na virada da rua perto da rodoviária, vi que o trânsito não fluía e, ao passar pelo local, vi no chão muitas frutas amassadas pelas rodas dos carros, mamão mortos, melancias, bananas. Um acidente chocante. Parado ao lado da pista, um motoqueiro que tinha uma caçamba vazia olhava atônito sua carga caída no chao, sem poder fazer nada, completa impotência perante o fluxo dos automóveis que, sem ao menos ligar, passavam por cima dos cadáveres das frutas e legumes tornando tudo uma pasta de dezenas de tons de cores correlatas. A cara dele era de desânimo. Tive um pouco de dó e desviei nos corpos vegetais o máximo que pude.
Hoje, voltei aa minha rotina. Levar o Joca, passar no savegnago vazio, comprar algumas coisas pro almoço e voltar para casa e esperar o horário do pilates. É neste exato momento do tempo que eu escrevo, agora.
Dormi no colchão novo e acordei sem dores nas costas, tiau mola, welcome back my friends to the spuma that never ends. No supermercado, vou em busca da carne picada para fazer estrogonofe, só que não vou fazer estrogonofe. Tem uma moça toda encapotada tirando umas bandejas de carne da geladeira e colocando outras. pergunto da carne e ela me aponta pro picadinho de filé mignon e diz, Por enquanto só tem essa. Num humor de quem está com frio e além de tudo trabalha dentro do frigorífico. Tento compreender as condições sócio-históricas que a levaram a este mau humor mas nada supera a minha vontade de dar um chute na bunda dela e fazer com que ela caia no meio das carnes. Não, não são instintos feminícidas, se fosse homem teria a mesma vontade de mandar o pé na bunda.
Graças aos céus, sou uma pessoa educada e civilizada com o monstro inside apenas. Vou lá e pergunto pro açogueiro e ele diz q tem e vai picar para mim. pego o saquinho de carne e passo perto da moça e digo, Lá no acougue tinha. E ela solta um ar que se estivéssemos na Finlândia ao relento, sairia fumacinha de frio e raiva. Como eu gosto de pisar no tubinho de oxigênio de pacientes terminais, ainda completo, Você deveria ter me avisado, pelo menos. E saio andando meio em zigzag para dificultar o cálculo da trajetória do arremesso de peças de carne congelada em clientes chatos.
Saio do super e volto para casa. Na esquina da rua sem saída de perto da minha casa tem uma passagem secreta que só os moradores do quarteirão sabem. Passa só um carro de cada vez e é mão dupla. Estou entrando na passagem secreta bem devagar, não pq sou educado, mas porque exige que se entre devagar na passagem secreta. Logo no começo dou de cara com um motoqueiro que vem vindo no pau e no meio da passagem que só passa um carro, eu breco o carro assustado. Ele desvia do carro, ele deve até ter ficado com cãimbra no esfincter final do susto que levou. Eu falo para ele, na boa, Ô cara, vai mais devagar no jeito que você entra aqui. E ele me manda a merda, mandar eu tomar um drink no símbolo do cobre e vai embora.
Eu penso, ah sei lá, ele deve estar estressado, todos estamos estressados, ele deve estar sofrendo as consequencias deste momento sócio-histórico, todos estamos. Ah, ele não consegue direcionar suas emoções e expressá-las da maneira correta e nem na hora certa.
Pensando bem, quer saber de uma coisa? Que ele arregace a fuça no meio do próximo poste da próxima esquina. Que o sangue saia o suficiente para que ele possa escrever com ele e com a ponta do dedo a palavra Desculpe no asfalto ainda frio da manhã. Ah, coitado de mim, devo estar estressado, sofrendo as consequências deste momento sócio-histórico e sem saber expressar minhas emoções também.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *