O Três Motivos

Ontem fui pra tambaú pagar promessa que fiz num momento de profundo fundo do poço no CTI pós operatório, num dia que tive certeza que entendi como se morre. Sem fogos, sem música dramática, se câmera que se afasta lentamente, sem revoada de anjos e/ou demônios. No dia que eu senti que não sairia mais dali e que era assim que se morre. Neste dia fiz duas promessas, que iria em Tambaú acender uma vela pro padre donizetti que, desculpa aí, já tinha me dado uma benção quando era bebê. E que também iria beber uma coca de garrafa inteira, virando no gargalo direto, igual na propaganda, se eu conseguisse sair de lá, ainda aqui neste mundo.
Apesar de não ter acontecido nada fisicamente grave neste dia, emocionalmente eu cai. Então, prometi.
Não tenho problema algum em ser ateu e pagar promessas. Sou ateu, graças a Deus! Prefiro ser um ateu que paga promessas do que um cristão que deseja a “morte daquela vaca”.
Quando sai do hospital, não tive coragem de tomar a coca-cola. Parei de tomar refrigerantes no dia 1 de janeiro de 2017. Foi neste mesmo dia 1, só que vinte e cinco anos atrás que eu parei de fumar e nunca mais fumei. Por conta deste simbolismo, fiquei com dó de tomar a coca prometida pq não tinha tomado nenhuma neste ano e, por incrível que pareça, gosto de manter minha imagem de imaculado para mim.
Fomos todos para lá. Programação já traçada, chegar, ver a praça da antiga igreja onde passei a minha infância junto aos bichos esculpidos nos arbustos iguais ao do Edward Mãos de Tesouras, almoçar no Cebola Brava que a gnt tinha visto na internet muitas pessoas falando super bem da comida e atendimento caseiro. Acender três velas para dois pedidos e um agradecimento. Tomar sorvete e zarpar de volta.
Os arbustos esculpidos tão meio caidaços, sei lá se é o inverno ou se eles estão sumindo no tempo, O almoço do cebola é realmente muito gostoso. Comemos PF de carne moída, arroz, feijao, tutu, farofa e polenta frita e eu tomei coca-cola. Um espetáculo sentir as bolinhas de gás mais o doce agora muito mais doce da água negra do imperialismo. Um espetáculo saber que é bom mas que posso viver sem ela e só tomar quando voltar a Tambaú daqui uns cinco anos, que é mais ou menos a minha média de ida para lá.
Depois, na igreja nova, enorme, bonita, moderna, eu gosto mais da antiga charmosinha, eu coloquei as moedas para acender a vela eletrônica moderna. Acendi e sentei e, sem saber como rezar, resolvi olhar para cima, para os lustres, focalizei três e trasnformei-os em meus três motivos de estar lá. Resolvi que se eu pensasse em tudo ao mesmo tempo agora e esse tudo formasse uma holografia emocional do que eu senti já bastava enquanto reza de ateu tem poder.
Fomos tomar sorvete numa sorveteria que, a claudia e o nico repararam, o dono sorveteiro tinha as mãos pretas de graxa, tipo assim como se ele fosse mecânico e sorveteiro at same time. Eu, para variar um pouco, não vi nada. O que não quer dizer muito pq vocês se lembram que, num episódio anterior eu assisti uns cinco minutos de quadro na parede, achando que fosse a tv. O sorvete de jabuticaba estava muito bom. Só achei eles muito coloridos, muito a fantastica fabrica de sorvetes do wonka.
Ainda passamos numa lojinha de muambas paraguaias e a turma cada um comprou uma coisa. Souvenirs da china. Viemos embora escutando minhas fitas k7 saladinha mista da década de 1990 que eu digitalizei pra colocar no meu site. Escutei pouco pq as ‘crianças’ falaram e riram a viagem inteira. Eu me senti feliz, mas não senti nenhum alívio, nenhum ciclo se fechou e nem eu vi a face de Deus. Eu senti apenas que nao foi um encargo pagar minha promessa e que promessas boas são estas que fluem no viver. E que o deus das grandes coisas, às vezes, é também o deus das pequenas coisas.

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