querido diário 29062017


Depois de uma noite descansável que aconteceu depois de uma dor de estômago infernal fruto de suco de tangerina, frituras, raiva e cinco waffers de chocolate com avelâs comidos com ódios, acordei chumbado pelo coquetel jimijanis de plamet, espinheira santa, omeprazol e frontal.
Hoje voltei ao trabalho, só que não. Pq amanha entro de férias e na escola nao tem mais alunos. Fui lá para pegar o papel e fazer meu exame médico de retorno pós inss. Oito da manhã e eu ja caminho pelo centro da cidade escutando músicas no iPhone.
Chego no lugar de fazer exame e, diferente das informações dadas anteriormente “é só chegar lá e fazer” descubro que preciso agendar pq o médico não vai de quinta. Saio de lá e volto para a praça. Paro e tiro uma foto do casarão abandonado. Vem vindo um moço que tem algum problema motor e anda com as mãos um pouco abertas e meio balançando-rebolando. Ele tem uma feminilidade gay (ok, construída socialmente, mas tem) que eu fico na dúvida se é da deficiência motora ou se é também dele gênero construído. Nas orelhas toca “E se o jóquei promovesse alguns páreos com jumentos? E se a royal injetasse nos anões uma dose excessiva de fermento? E se as casas da banha abatessem algns gordos para seu abastecimento? E se a dulcora lançasse no mercado um drops diet de cimento? Flat-cemitério-apartamento” e eu acho que tem tudo a ver com meu momento penso isso do moço mas nao posso pensar isso do moço que anda diferente.
Lembro que tem um café ali perto bem charmosinho e resolvo fazer igual nos filmes, apesar de ja ter tomado em casa, entrar, pedir um café com leite e algo para comer. São 15 pras 9, o comércio abre as 9 e eu estou disposto a comprar uma capinha transparente e uma película de vidro para colocar no meu celular. Na hora que entro na cafeteria, iGod canta para mim, Você tem fome de que? Peço o pingado e uma fatia de bolo três leites, acho que é isso que chama Algo bem doce com leite em pó, doce de leite e brigadeiro branco. Algo bem tranquilo para quem tinha um estômago que se comportava como uma minhoca aquática fora d’água há menos de 12h. A vida é risco. Tinha certeza que aquilo iria dar merda. Até eu que gosto de doces, achei exagero aquele bolo dooooce naquela hora. Entreguei para Jesus. Tem hora que você precisa se arriscar nesta vida. Foda-se.
Saio de lá disposto a caminhar para fazer a digestão num estômago fragilizado por más escolhas da vida. Vou pro centro popular de compras achar minha capinha e película. Lá dentro, naquele mar de bonés, capinhas, celulares, brinquedos da china, no meio daquele petit paraguay nos foninhos de iGod tocam computer world. Também acho que orna com o momento. Gasto 25 reais e coloco a capinha mais a película de vidro. Saio feliz e mal intencionado pq no caminho tem tres sebos de vinil. Não adianta eu ter ganho uns trinta lps maravilhosos, o viciado caçador não consegue viver só de bife de supermercado. Ele precisa adentrar a selva de poeira e agarrar com suas unhas de carnívoro alguns espécimes de vinil de seu habitat natural para satisfazer seus instintos. Mesmo assim, passo nas três e não compro nada. Me sinto o próprio deus da guerra, senhor de mim, meu pai oxalá é o rei venha me valer.
Subo em direção a escola onde está meu carro. Passo pela catedral. A mesma praça, o mesmo banco que eu sentava pq não aguentava de dor no braço esquerdo e peito e tinha que parar e sentar um pouco para descansar. Mas agora o rio flui sob as pontes e o rio é o mesmo, mas nao é também porque o sangue que passa por ele, agora, é outro. Eu também sou outro, só que nao.

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