Questã de Gênero


Hoje de manhã levei o joca para a escola, no caminho ele me perguntou, Pai, eu sou obrigado a gostar de Pablo Vittar? E eu perguntei de volta, Como assim? Mesmo tendo já entendido o que ele queria dizer. Ah, é que eu nao gosto das músicas dele e dai se eu nao gostar vão me chamar de homofóbico. E eu disse pra ele que não era obrigado a gostar de nada que ele não gostasse.
No caminho da escola, logo depois, vejo um outdoor do dia dos pais. O slogan é algo do tipo, dia dos pais, você pode presentear quem você achar que é. Fiquei pensando na publicidade como a mais esperta das profissões em medir e analizar os trends e adaptá-los para ganhar dinheiro. Qualquer um pode ser pai. Sua tia, a companheira da sua mãe, seu pet shop boy e, principalmente, sua mãe. Já que vivemos um tempo em que existem muitos pais que não comparecem com porra nenhuma. Ou melhor, só compareceram com alguma porra e depois deram uma saidinha para comprar coca com casco de pepsi.
Não dá para fazer esta graça publicitária no dia das mães. Primeiro pq o comércio vende muito bem neste dia e segundo pq mãe só tem uma, e é uma instituição que deu certo faz muito tempo já.
Segundo Freud, a mulher tem inveja do pênis. Eu não sei não, eu acho que o pai é que tem inveja da mãe, da importância orgânica que ela tem e por isso ganha muito mais presentes do que ele no dia respectivo de cada um.
Mas seria mãe uma construção social também? A maternidade é uma construção social? Seu pai poderia ser sua mãe e sua mãe poderia sair para comprar coca com casco de pepsi na boa? Ou seja, a pressão tão forte da sociedade patriarcal que chega a ser orgânica, tanto no sentido de peso quanto de serem ligados pelo cordão umbilical, é ela que impede que uma mulher esteja quase paralisada para agir de outra maneira?
Cheguei no supermecado na hora de sempre e, no estacionamento completamente vazio do amanhecer, um carro chegou antes de mim e estacionou na MINHA VAGA do supermercado. A mulher está descendo do carro, procuro na lista de xingamentos, um que não seja ofensa de gênero. Óbvio que xingo uns quatro de gênero antes de chegar no cretina. Óbvio também que tudo isso se passa dentro da minha cabeça. É claro para mim, desde o momento que o Joca me perguntou, e que respondi o correto para ele, que é um correto teórico pq a pressão que ele sente para gostar do Pablo (ok gnt, eu gosto) é real. E é mais óbvio ainda que nao interessa que ninguém não tá escutando meus xingamentos internos. Dels tá, o deus atual das coisas certas e das coisas erradas, financiado pelo mercado, quando gera lucro, mas originalmente proposto para acabar um pouco com a exclusão dos excluídos. Dentro de mim existe o fora de mim. Fora de mim existe o dentro de mim. E ficamos no meio disso tudo, tentando separar o que sou eu, entre tantos nós que não sou ou que sou eu.

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