Finalmente assisti o aclamado novo filme do Cuaron que, pra mim, se tivesse feito só Os Filhos da Esperança eu ja colocava ele no panteão da glória dos cineastas foderosos da minha coleçao particular de cineastas foderosos.
Pensa num livro com fotos do Sebastião Salgado. Pensou? Então, a fotografia preto e branco deste filme nao é pouca coisa não. E não é só pq ela é preto e branco que é linda. É também uma questao de luz e sombra, de enquadramento, de signficado significando a cena e dando mais poder imagético a ela ainda. Li em algum lugar que ele quase nao movimenta a câmera nas cenas e, se movimenta, este movimento é apenas lateral, sempre nos deixando a sensação de observador de um quadro, uma pintura, uma fotografia do Tião. Você vai perceber isso já na sequência de abertura que mostra um chao e um fluxo de agua que vem neste chao e, quando vem, torna o suporte reflexivo e vemos o céu refletido neste chao e, neste ceu, passa um avião. Voltaremos aos aviões em outro momento deste texto (se eu nao me esquecer). Nesta sequencia de abertura, nao existe movimento de câmera, vc imagina o que esta acontecendo pelo fluxo da agua e pelos sons que escuta. Não existe música. Aliás, não existe uma música no filme que é uma trilha, uma música que só exista para nós, espectadores. A música que escutamos no filme, e não são poucas, os personagens também escutam.
Bom, agora vou dar um adianto na vida de vcs e vou dizer pq o filme se chama Roma, já que eu fui procurar na intenet. Primeiro pq a historia de uma familia nos anos setenta no méxico se passa em um bairro de classe média chamado de Roma. Segundo pq é uma referencia a Roma, Cidade Aberta do Rosselini, pai da Isabela e um dos cineastas do neorrealismo italiano da decada de 50-60. Neorrealismo a quem este filme deve muito, tanto na estetica preto e branco quanto na maneira de contar a historia em que nem percebemos que existe uma historia que foi construida para ser filmada. Ficamos o tempo todo com a sensação de estar observando a vida acontecer diante de nossos olhos. E olha que a vida acontece. E acontece igual acontece nas nossas vidas, como pano de fundo, como contexto pros nossos atos e desejos do dia a dia. Tudo que acontece de grandioso historicamente e é mostrado no filme é sempre mostrado como pano de fundo do cotidiano dos personagens. E isso faz do filme algo que é épico e intimista ao mesmo tempo (esta frase sobre ser epico e intimista eu copiei de algum lugar na internet).
E o avião? Não pode ser à toa que eles apareçam no começo, no meio e no final do filme. Quer coisa mais distante, idílica e simbólica do que a imagem de um avião refletida numa poça de agua formada pela limpeza de um chão sujo de cocô de cachorro? Se eu fizesse pós em cinema juro que escrevia uma tese de doutorado de 400 paginas só sobre o avião no filme Roma e se chamaria:
O avião no céu-chao. Lugar da fala imagética dos oprimidos.
É um filme belíssimo e emocionante. Mas, lembre-se, é um épico intimista, as lágrimas virão discretas e lentas como num slow motion que o diretor nao usou em momento algum de seu lindo filme. Pq camera lenta é coisa de cineasta maneirista e aqui nóis somos roots fião.
Ah, sim, prestem atenção no cara cantando no meio do incendio na floresta. É quase surreal, e fica mais surreal ainda no meio de tanta realidade. É como se Cuaron nos lembrasse, neste instante, que vemos um filme, que foram feitas opções estéticas e narrativas para a construção daquilo tudo e que estamos diante de um simulacro da realidade, mas nunca da realidade, por mais realista que tudo possa parecer. É sempre Cuaron que está ali comandando tudo, ele é o Deus de tudo aquilo e tudo aquilo obedece a seus comandos e memórias.
#cleidonetflix #cndrama #Roma
Ah, sim II. Um bom nome para este filme poderia ser Que horas ela volta de Roma, Cidade Aberta?
Ah sim III, Saiba neste link aqui como configurar sua TV para ter uma experiencia plena de imagems ao ver o filme Roma:
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