Eu, Frank Underwood e o Arroz Doce de Roupas


Esta noite tive dois sonhos estranhos. Tenho muito sonhos estranhos, mas quando eles são possivelmente estranhos, eu acho mais estranho.
No primeiro deles eu fazia arroz doce de abóbora dentro da maquina de lavar roupas e, inacreditavelmente, porém possível, usava também roupas para fazer o doce. Mesmo no sonho eu achei meio esquisito. Não botava muita fé q iria dar certo. A porta frontal da lavadora estava aberta pq eu tinha que empurrar as roupas pra dentro com uma colher de pau para poder fechá-la. Enquanto olhava e pensava que as roupas precisariam ser cozidas na agua quente da máquina por um bom tempo até ficarem macias e comestíveis.
No segundo sonho eu encontrei com o presidente. Não era o Temer, nem sei se era o Brasil. Tudo era aquela mistura sintética que os sonhos tem de juntar em uma só pessoa ou lugar, varias pessoas ou lugares. O presidente encontrou comigo por acaso na rua, ele estava de terno e era uma mistura de jucelino com frank underwood. Mas não era nenhum dos dois. Pelo jeito eu conhecia ele de antes. Disse para mim que precisava que eu ficasse no lugar dele, que não estava mais a fim. Incrivelmente, até para sonhos, eu aceitei apesar do cagaço de ser presidente.
Fomos pra seu escritório, sala oval, palácio do planato, sei lá. Tentamos entrar pelo elevador dos fundos, de serviço e que só cabiam duas pessoas, mas nao conseguimos pq existia uma viga de concreto na frente da porta que dificultava muito a abertura dela. Fomos pela entrada principal mesmo. Chegamos lá, numa ante sala e estava lá a equipe dele com suas vestimentas estilo house of cards. As pessoas nos cumprimentaram e nem acharam estranho eu estar ali. Olhei pra mim e estava com a roupa que fico em casa, ou seja, uma camiseta muito velha e uma calça idem. Fiquei completamente desconfortável e sem graça. O presidente entrou para sua sala particular e me deixou lá sozinho com o meu desconforto, agora duplo.
Hoje, cinco pra sete de manhã eu ja estava na porta do lugar para fazer meu ultrassom de dedo da mão. Aquele dedo que acordou doendo da cirurgia por ter sofridos abusos enquanto eu estava dopado e entregue a sanha carnal da equipe médica. Cinco pra sete da manhã e descubro na porta que levei a guia errada pra autorizar no local e fazer o US.
Falo com a atendente. Ela me pergunta se ninguém pode me mandar por whats. Eu ligo e acordo o Nico e ele tira uma foto e me manda e eu mando pro email do laboratorio. Tudo resolvido, mas agora to acordado e tenso pq este transtorno básico de ínicio de dia deu um up no meu estado de vigília.
Vou fazer o ultrassom de mão, a moça me chama. Entro na sala, sento na cadeira, ela coloca um travesseiro no meu colo e me prepara e sai e diz que o medico já vem. Não tem jeito, ficar na salinha de US esperando o médico chegar a qualquer momento eu sempre acho que parece com esperar o rei, o juiz entrar no tribunal, o anjo da anunciação. Sempre penso que vai tocar trombetas anunciando ou tocar enter the sandman do metallica anunciando a anunciação.
O médico entrou num barulhão de abrir a porta que eu só não assustei pq nao tive tempo para isso. Sabe daquele jeito que se fosse aluno vc diria, tá pensando que tá na sua casa. Bom, mas ele não era aluno e talvez aquela fosse a casa dele e eu respeito autoridade. Tenho impressão que os que vão fazer este tipo de especialização não gostam muito do contato social. Ele era educado, não posso reclamar, mas conseguia ser nutella, barba meticulosamente recortada, e raiz ao mesmo tempo. Era meio pesado ao fazer as coisas, pesado de movimento mesmo. Algo como se o cerebelo dele tivesse algum problema na parte sensório motora de antecipar os movimentos musculares e conseguir prever direito a trajetória destes movimentos e também como suavizar o impacto provocados pelo fato de ter que terminá-los. Cerebelo s são mestres em fazer tudo isso, eles manjam deste paranauê de calcular trajetórias de movimentos musculares e já acionar, no meio do movimento, músculos antagonistas que começam a desacelerar a velocidade inicial. Ok, fez o ultrassom e disse q meu dedo estava mesmo em gatilho.
Saio de lá e ainda tenho mais duas coisas para fazer, autorizar guia de exame de esteira com ecocardiograma e comprar carne no savegnago.
Autorizo a guia, a atendente esta reclamando com a amiga q o celular da filha quebrou a tela e vai ficar em 1500 reais e, por isso, ela quer outro pq nao vale a pena consertar esse. Ao mesmo, também diz que não liga pra isso, que o dela é velho. Quase falo, melhor nao ligar mesmo pq sua filha já consome a cota monetária da familia em ligar pra isso. Incrivel a capacidade q temos de transformar em verdades absolutas e necessidades fundamentais pequenos mimos do dels-walter.
Ainda falta o supermercado, passo por lá e compro a carne. Óbvio que junto com ela compro cenouras, cogumelos, vagens, sorvete pimpinella de leitinho trufado com calda de morangos, duas caixas de cortado da dolce gusto e rumo pra casa para fazer o almoço.
Tenho uma vida feliz, hoje em dia. Mas também não sou tonto de agradecer ter sido despedido pq isso mudou minha vida. Mudou, mas eu ainda preferia ganhar mais dinheiro e continuar acomodado tocando meu tamborzinho. Mas a vida é real e de viés. Posto isso, o que tenho a dizer é que eu tenho felicidade em mim. Tenho limado o que era excesso mesmo em alguém cheio dos excessos como eu. Não existe prazer maior que dar aulas duas manhãs por semana e ter o resto da semana para fazer um monte de obrigações e prazeres. Vou tentar ser assim, vou equilibrar meu orçamento pra ser assim e não pra ser assado no sol do mercado educacional de ribeirão.
Depois que o presidente entrou pra sala dele e eu fiquei sozinho com os funcionários das antessalas do salão sei lá oval, eu fiquei meio sem jeito de estar ali, principalmente pq estava com aquela camiseta muito velha de dormir enquanto todos estavam terno tailleur house of cards dress code de ser. Andei até perto de uma estante, cheia de livros, HQs e brinquedos de madeira e comecei a dar uma olhada pra disfarçar a minha inadequação. Uma das secretárias veio até mim pq percebeu meu desconforto. Perguntou se estava tudo bem. Eu disse que estava me sentindo constrangido por vestir aquela roupa. E ela me disse que iria providenciar uma roupa adequada para mim.
E ainda me disse que eu não tinha idéia de como e em que condições e roupas o presidente tinha pego todos os outros membros da equipe.
Roupas novas são necessárias pra se substituir o presidente. Mesmo que este dress code não me pertença, eu terei que cozinhá-lo até ficar macio. Terei que entendê-lo pra poder continuar vestindo, por baixo dele, aquela velha camiseta detonada, confortável e amiga que também ainda sou eu.

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