O Lagosta

Humberto Maturana o famoso pensador que só eu conheço diz que a emoçao que funda o humano é o amor. E, amor, para ele, é a disposição biologica que temos pra conviver e aceitar o outro como alguém legitimo. É a partir desta convivência que os casais e familias se formam. É por viver juntos que os cios sazonais desaparecem e a sexualidade humana não é mais sazonal mas constante. Pq estamos sempre juntos. Posto isso, é do humano viver junto. É do humano viver em pares. Toda nossa cultura e sociedade se desenvolveu a partir deste viver e ser juntos. 
Agora, pensa num episódio do Black Mirror estendido, pensa naquela frieza pessimista de futuro próximo e distópico. Num futuro próximo, pessoas solteiras precisam formar par com outras pessoas, nao podem ficar sozinhas, para isso vão para um hotel, para ver se encontram alguém. Se falharem, serão transformadas em algum animal de sua preferência e viverão resto de suas vidas como este animal. Ou seja, se vc nao consegue viver junto, vc perde sua humanidade e, ao perdê-la, volta à condição de bicho que só é instinto. 
Loko né? Então, mas vc ainda nao viu nada. O uso da trilha sonora também é não usual. Tem um tema muito drámatico de cordas que entra em horas q tem e que nao tem a ver. A interpretação do atores é quase catatônica, só perde da turma do mr robot. A cenografia é uma mistura de baile da saudade em poços de caldas com hotel do iluminado. Além de tudo isso, a história é boa. O final é instigante. Daqueles filmes que por mais que sejam bizarros, distópicos, sobre futuros e realidades alternativas, continuamos a perceber que o mal é sempre o que sai da boca do homem. 
Ah, sim, tem uma ceninha lá que alcança 7 pontos na escala Cão Andaluz de aflitividade zoística.
#cleidonetflix#cndrama#OLagosta

Spotlight

Filme sobre revista que investiga e denuncia um aparente caso isolado de pedofilia na igreja católica na região de Chicago que se transforma na descoberta de dezenas de padres e centenas de vítimas envolvidas. Filme bem legal, bem construído. Naquela linha de jornalismo investigativo, Todos os Homens do Presidente, bem legal mesmo. Historia cigarro de maconha enrolado em jornal (baseado em fatos reais), o filme tem duas horas e vc nem ve passar. Tem o hulk Rufallo, o batman Keaton e mais uns lá que vc ja conhece e é íntimo de outros filmes e séries mas nao sabe o nome deles. Praticamente todo o elenco do filme eu considero da familia já. Vão lá, muito bom.
#cleidonetflix #cndrama #Spotlight

True Story

Um filme q se chama Historia verdadeira baseado num livro chamado Historia Verdadeira e que foi… baseado em fatos reais. Tá bom pra vcs?
Jornalista investigativo faz umas gambiarras numa reportagem sobre trabalho escravo colocando varios personagens em um só que vira capa do New York Times. O jornal descobre a gambiarra e demite o jornalista. Carinha acusado de matar a familia inteira é pego no México e se passava pelo jornalista investigativo do NYT. Jornalista na rua da amargura depois da demissão fica curioso em saber pq o suposto assassino usava seu santo nome em vão. Vai encontrar com ele na prisão.
Dai rola o relacionamento dos dois, as conversas e o livro que o jornalista da vida real escreveu q se chama historia verdadeira q deu origem ao filme q tambem se chama historia verdadeira. Filme bem legal. Tenso. Manipulações, julgamentos, tribunal, e tudo mais que um bom filme deste tipo deve ter.
#cleidonetflix #cndrama #TrueStory
 
 
 
 
 
 

Quando os Anjos Dormem

Se vc ligar o olhar detector de machismo tradicional naturalizado neste filme vc vai odiar. Por isso, vamos desligá-lo para poder apreciar a película com as emoções que ela quer e consegue provocar em nós.
Mãe chata com filha chata enche o saco do marido q está em outra cidade trabalhando pra ele vir para festa de aniversario da filha e o idiota sai e pega a estrada a noite e com sono e é óbvio que vai dar merda.
Filha adolescente chata briga com os pais bonzinhos e sai de carro pra dar um rolê cazamiga q cheira pó e uzamigo bandido dela. Óbvio II, a missão que a trajetória e destino dos dois desinfeliz vai se juntar em determinado momento do filme.
Dá tanta merda e eles são tão irritantemente e humanamente burros que eu torci pra todo mundo morrer no filme. Não conseguia torcer para ninguem se safar daquela situação.
Quando acabou eu gostei, e gostei muito. Achei a resolução daquela porra toda que só piorava e piorava bem legal e interessante. Mas lembrem-se, eu tinha desligado o Tabajara Machism Detector.
#cleidonetflix #cnthriller #cnsuspense #QuandoosAnjosDormem

Orgulho e Preconceito e Zumbis

Em 1981, David Byrne, o cara do talking heads, se juntou ao Brian Eno, conceituado músico e produtor, pioneiro no uso de colagens feitas com fitas magnéticas na música pop, e fizeram um album histórico e que antecipou toda a colagem em que se transformou a musica pop que foi feita nas décadas posteriores. Byrne e Eno, antes da era digital, recortaram a mão, com tesoura e durex, pedaços de fitas magneticas gravadas com vozes folcloricas de várias partes do mundo, discursos de politicos, sermões evangélicos, pastores praticando exorcismo e usaram estes trechos como vocal sobre bases rítmicas que eles criaram a posteriori. Assim, a voz de uma cantora folclorica tradicional do oriente medio se transformou em outra coisa quando foi acrescida de uma base funk old school pelos dois compositores. Com este disco, eles fizeram um mashup (uma mescla musical de duas ou mais musicas) e criaram uma outra musica. Na década seguinte, e com o surgimento dos samplers digitais, mais da metade da musica pop usou recursos e ideias feitas por esta dupla.
Mas carái, pq eu to falando deste disco numa resenha de filme de zumbi com jane austen? Hmmm, já deu pra entender né? Este filme também é um mashup. Aliás este filme é baseado em um livro mashup que mistura o livro Orgulho e Preconceito da Jane Austen com a mitologia dos filmes de zumbi.
Olha, vou te falar uma coisa pra vcs, nao sei sobre o livro, não sei o tanto que ele fere os cânones da literatura universal austiniana, mas o filme é bem legal. Mesmo pq, o sagrado na arte foi escurraçado e ficou lá pelos anos do início do século XX, logo depois que o Duchamp e sua Mona Lisa com bigodinho e cavanhaque fuderam com tudo, no bom sentido.
Mashup bom nao é misturar agua e óleo e ver os dois juntos, mas separados. Mashup bom é pegar ovo-agua e óleo e emulsificar e fazer virar maionese. Este filme é um bom mashup. É legal pq tem a historia da Austen, o orgulho e o preconceito e aquela discussão de quem é quem na sociedade inglesa e quem fez fofoca de quem pra impedir que alguem case com outro alguém, e também tem ataques de zumbis. Óbvio que tudo devidamente explicado no prologo de pq da invasao zumbi e tals. É mashup pq as irmãs letradas e bordadeiras do original, neste universo paralelo austen-romero, são agora prendadas em artes marciais, manejos de armas e decapitações de mortos vivos com espadas. É assim que, neste universo, é avaliado se uma moça é prendada or not. 
É um filme legal, mas é preciso que vc, espectador, também se dispa de seu orgulho de conhecer e só ler a Austen no original e não tenha preconceito de ver no que deu esta mistura inusitada, mas que nao ficou indigesta. Afinal, achar que o mundo é um arco-iris e, ao mesmo tempo, rir da ministra reducionista que disse que menino usa azul e menina usa rosa é fácil. Quero ver levar este conceito de mescla, mistura de zilhões de cores para outros lugares do conhecimento como, por exemplo, num filme que mistura orgulho, preconceito e zumbis. Topas?

Ah, sim. Se vc quiser ouvir uma palhinha do disco que falei no começo da resenha, vai aqui o link https://www.youtube.com/watch?v=k-HDlKhoiZY
#cleidonetflix #cndrama #cnaventura #OrgulhoePreconceitoeZumbis

Sementes Podres

O que dizer de um filme francês que é bom pq é francês e tem falhas também pelos mesmos motivos?
Catherine Deneuve, diva como sempre e como todas as divas, sabem mais divar do que interpretar. Problema que se agrava ainda mais com um tanto de botox que se aplica para se permanecer lynda, loyra e indo pra Paris. Ela faz a mulher trambiqueira que adota um refugiado orfão que literalmente comeu o pão que o devil smashed e agora vive de dar pequenos golpes junto com a mãe ou sozinho. Por voltas que só a mente de um roteirista meia boca ( Kheiron, o proprio ator principal) imagina, eles vão parar numa ong q ajuda adolescentes revolts a continuar a frequentar a escola e o trambiqueiro vira o jack da escola do rock ensinando e aprendendo com os adolas.
Do jeito sardônico que eu escrevi estas primeiras linhas pode até parecer q o filme é ruim. Mas não é. É um filme legal e bem gostoso de assistir. Mas tem defeitos (e virtudes).
O primeiro dele é que o ator/diretor/roteirista deixou muita coisa na mão dele e não deu conta de segurar. Tem hora que ele esquece que um filme precisa funcionar o tempo todo e não só quando o astro diretor ator comediante está em cena. Por conta disso, o roteiro não se preocupa em tornar crível como as coisas aconteceram pra chegar no ponto em que chegaram. As coisas só acontecem pq ela estão no roteiro pra chegar na situação em que o filme se desenrolará e se nao acontecessem nao teriamos o filme que estamos vendo. Sabe igual aquelas piadas que a gente tem que começar contando o contexto para que se torne justificavel pq o personagem da piada está agindo de determinada maneira na piada que vc está contando? Então, isso funciona em piadas. Porém, em filmes, acho bem questionável.
Segundo, tem a Catherine que é uma deusa, mas, cá entre nós, é tipo uma susana vieira da frança né? Não trabalha lá muito bem né? FIcava bem nos filmes do Bunuel, onde só precisava fazer aquela cara de loira gelada fruto do id onírico do cineasta. Aqui neste filme ela não convence. Tenho certeza que o diretor/ator só colocou ela pra fazer aquela cena que ele massageia os pés dela e colocar no currriculo dele q ja fez isso.
Terceiro, Kheiron se acha e faz o filme desta forma. E quase cai, talvez no futuro ainda caia se nao tomar cuidado, na armadilha que o mala do Roberto Begnini criou para si proprio tornando-se um chato egocêntrico banido para o ostracismo do infinito e além.
Mas, então, pq este filme é bom? Pq ele é francês. E apesar de ser uma comédia leve, ela não é uma comedia leve, tem drama, tem morte, tem pedofilia e igreja, tem corrupção policial e trafico de drogas. E, mesmo parecendo que acabou o estoque de rolo de filme e por isso precisou resumir e e terminar o filme, o final, com um pedaço em forma de clipe-resolução da história, é bem legal.
#cleidonetflix #cncomedia #SementesPodres
 

Flu

Gosta de cinema catástrofe? Gosta de filme coreano? Caso tenha respondido sim pras duas perguntas anteriores, prossiga na resenha.
Filme catástrofe coreano é tipo um filme catástrofe que subiu numa montanha russa e sentou na parte da frente do carrinho. E depois, ainda, o carrinho desgovernou e desceu em queda livre pelos trilhos da montanha. Acho que é assim que os coreanos pensam em nos fazer sentir tudo que gostamos de sentir num filme deste tipo.
Um vírus mutação da gripe aviária chega num conteiner cheio de imigrantes clandestinos numa cidade tipo 30km de Seul. Óbvio que esta gripe mata em 48h e nao tem cura e nem vacina e nem tamiflu. Óbvio que ela espirra sangue quando se tosse. Óbvio que nós vemos os perdigotos contaminados espalhados no ar a cada espirro. Óbvio que o Sodenberg ja fez um filme assim (Epidemia). Mas o Sodenberg é phyno e chique e seguiu o protocolo de como seria uma infestacao deste tipo, ou seja, o filme dele é asséptico. Já os coreanos nao, eles sao gengibre roots, são dramáticos, barrocos, exagerados.
Se vc ta aqui pra isso, se joga pq esta montanha russa desgovernada é das boas.
#cleidonetflix #cnaventura #Flu
 

A Estrada Nunca Percorrida

Você sabia que a produção de cinema da Nigéria só fica atrás de Hollywood e Bollywood? Ou seja, é a terceira maior produção de filmes do mundo e é chamada de Nollywood e, ao mesmo tempo, toda dedicada ao aluguel e venda em dvd e videos através das mais de 15 mil locadoras que existem no país. Believe or not.
Na verdade, eu também não sabia nada disso, fui dar uma gugada para saber mais pq fiquei curioso em entender este cinema que nao tem nada de diferente mas, ao mesmo tempo, tem, já que cada lugar tem suas particularidades e, mesmo sobre esta intensa globalizacao que vivemos, elas aparecem na maneira de contar a historia, nos cenarios, nos valores e tudo mais.
Se eu disser que eu acho o máximo o cinema nigeriano, vou tá fazendo o estilo intelectual burguês de esquerda que acha MC Guime melhor que Caetano Veloso.
Assisti, por enquanto, dois filmes nigerianos. O primeiro é uma bosta tão tecnicamente amadora e ridícula q até tem o seu charme se vc gosta de trash movies involuntários. O segundo que vi foi este aqui da Estrada. E este aqui, tecnicamente é bem superior, existem angulos de camera diferentes, cortes e edição, trilha sonora consistente e tudo mais. Mas, mesmo assim, o filme sempre parece o tempo todo com um video de english lesson de algum curso de inglês que vc ta fazendo e que depois q vc acabar de assistir vai ter q responder algumas perguntas do tipo Where’s Mr. Pepper?
Os atores interpretam em inglês e vc percebe que eles sao pessoas interpretando personagens que estão sentindo/falando o que voce esta assistindo. Sim, é um defeito, mas também pode ter seu charme.
Este filme é a história de um casal com uma filha de uns sete anos que se separou. O ex marido está vindo pra casa para que o casal viaje juntos pra uma cidade perto e, no meio desta viagem, vai acontecer a conversa, a DR, a lavação de roupa suja entre os dois.
Tenho que confessar duas coisas para vcs. Primeiro, eu tava vendo este filmes faz uns dois meses já, vi misserie-style, ou seja, vi em cinco/seis vezes sem acrescimo. Não dava muito conta daquelas DR in english the book is on the table e dormia ou ia ver outra coisa. Segundo, e mais surpreendente, é q apesar de tudo que disse antes aqui, eu gostei do filme.
O interessante é que quando acaba, vc ressignifica o título e ele fica mais legal ainda.
Ah sim, a decoração das casas classe média e de gente ryca nigeriana é um caso a parte, uma mistura de clínica odontológica de conjunto comercial com cortina de escritório de contabilidade de centro da cidade e sofás de magazine luiza. Tudo com muitos detalhes metalizados. Deve ter quem goste tb fora da Nigéria.
Ah sim, dois, assista até o final pq tem plot twist, aliás, mais de um, tem dois.
#cleidonetflix #cndrama #AEstradaNuncaPercorrida

Mexico Bárbaro

O que eu aprendi com o feminismo é que tenho q tentar saber quando eu ou alguém é machista. Posto isso, é incrível como o universo do terror é enlouquecidamente machista. É uma coisa tão incrustada em nós que nem percebemos. Por isso o feminismo é importante para os homens. Para que possamos saber e perceber como a mulher é naturalmente explorada o tempo todo e nem percebemos pq naturalizamos esta exploração.

Este filme é uma antologia de terror com curtas inspirados no folclore mexicano. Espíritos, ninfas, zumbis, seres da floresta, cada filme com um tema. Alguns são razoaveis, outros sao legais, outros sao mais fracos. Algumas historias sao boas e outras maomenos. Se vc nao gosta de um gore trash, cheio de sangue e tripas e nojeiras viscosas em cenas feitas pra vc ficar com vontade de chamar o hugo, fuja! Se vc gosta, arrisque! A história que eu mais gostei foi a do zumbi. Algumas são tão exageradas que funcionam como trash. A do casa na cabana na floresta funciona de tão over q é. A atriz interpreta over aos gritos sua personagem, fica tocando uma musica junto com a trilha sonora incidental que parecem que esqueceram um radio ligado na conquista fm no meio do filme. O diretor usou um efeito de filme antigo cheio de riscos e poeiras neste episódio q eu, sinceramente, não entendi pq fez isso, além de puro maneirismo.
Ah, sim, a introdução desta resenha tem a ver com o fato de eu nao conseguir mais ver um filme de terror sem perceber que (quase) sempre ele é feito por homens que, mesmo sendo tudo muito ficticio e fantastico, sempre colocam em cima da mulher a carga de fetichismo que o homem tem sobre a exibição, violação e destruição do corpo feminino como forma de dominá-lo.

Burden

Neste primeiro de janeiro de um novo ano q se inicia, deixo com vcs um documentário sobre um dos grandes artistas contemporâneos. Um cara que levou a arte a outro limite, passando por dor, sofrimento e exposição pessoal para dizer que arte dói, arte custa para quem faz e pra quem vê. Sua obra mais conhecida e polêmica se chama Shoot – Tiro, que ele fez em 1971, aos 26 anos, na qual ele ficou parado em frente uma parede e um amigo, teoricamente eximio atirador, acertaria seu braço de raspão com um disparo de fuzil. Este doc é legal pq conta sobre o artista por trás das obras. Ou seja, quando sabemos da obra, logo pensamos, o cara é um demente, um suicida, é outro tipo de gente. Mas quando vemos no doc que ele calculou e treinou várias vezes antes com o atirador disparando numa linha na parede para acertar ele só de raspão e que, na hora da performance, o atirador errou e acertou o braço dele mesmo. E que ele ficou branco e com os lábios roxos e quase desmaiou, nós percebmos que nao é porralouquice, é algo pensado e calculado. Não fazia parte de seus planos acontecer algo grave no evento, mas nem por isso, em atividades de risco, garantimos tudo sempre. E por isso, sempre pode dar merda.
Este doc é uma boa porta de entrada para vc que nao conhece muito de arte contemporanea e/ou nao gosta muito e se pergunta, Mas isso é arte?
Sim, sim, siriri, sim sim. Isso é arte. Uma arte que deixou para trás a necessidade estética de ser bela a qualquer custo. Uma arte que deixou para trás a necessidade do artista ser alguém dotado de qualidades técnicas de feitura excepcionais. Uma arte que valoriza o questionamento, o conceito e o processo de fazê-la. Vão lá! Até o Santos Dumont entra na história de uma maneira poética e bela.
#cleidonetflix#cndocumentario#Burden